terça-feira, 25 de maio de 2010

Aprendizagem

O PROCESSO DE TRANSFERÊNCIA DA TV




Uma das características da TV é a sedução, é a naturalidade com que ela fascina o telespectador, afetando o seu subconsciente, induzindo-o a fazer projeções de si mesmo de forma arbitrária e inconseqüente, ou seja, ela faz com que o indivíduo projete a sua imagem nos modelos bem vistos, apresentados pela TV. Um exemplo claro disso, são as propagandas de cigarros em que aparecem sempre figuras apresentáveis, bem sucedidas; isso faz com que a maioria das pessoas associem o cigarro ao sucesso, a uma imagem que dá um certo “status” social, ainda que no final dessas propagandas venha escrito ( com letras pequenininhas ) a advertência do Ministério da Saúde mostrando que o fumo é prejudicial.

A principal estratégia da TV é o jogo das palavras, seguidas de imagens que criam na mente do indivíduo um mundo fantástico onde só tem espaço para o grandioso.

O cerne do problema não está em oportunizar o acesso a um mundo imaginário, cheio de sonhos e sim, em jogar com o psíquico pela via das emoções, fragmentando a realidade, impedindo o indivíduo de transportar para o mundo real as fantasias criadas. Como isso é feito por meio das emoções, acaba impedindo-o de portar-se de forma mais reflexiva, uma vez que lhe é negado a participação ativa no processo comunicativo.

Não se pode falar em finalidades propagandistas sem mencionar o processo de transferência a que a TV expõe o telespectador, uma vez que as propostas mexem com o psicológico das pessoas, revelando-lhes um mundo de sedução e estereotipia.

Os produtos anunciados não se restringem a meros produtos, eles criam alma, sentimentos e poderes suficientes para persuadirem as pessoas a adquiri-los. As propagandas fazem uma espécie de lavagem nos telespectadores, introjetando em suas mentes “necessidades” várias para que desta forma consumam o que lhes é apresentado. Dois exemplos já antigos que podem corroborar com o que estamos nos referindo são as propagandas do Batom Garoto e da Bicicleta Caloi. No primeiro, a mensagem dizia: “ Compre batom, seu filho merece batom ! ”. Claro, que a ênfase que era dada não era a um chocolate de qualquer marca, mas da marca Garoto e isso era repetido várias vezes como se realmente fosse uma lavagem cerebral. Com isso, despertava nas crianças a vontade de experimentar o produto e sensibilizava os pais a comprá-lo, como forma de satisfazer uma pseudo-necessidade dos filhos.

O outro exemplo, o da bicicleta, consistia também em uma criança colocar o lembrete em todos os lugares possíveis onde seu pai pudesse ver as seguintes palavras: “ Não esqueça a minha Caloi ! ”. Inserida nessa propaganda está uma figura de linguagem denominada metonímia que consiste em colocar a marca em lugar do produto. Obviamente que os publicitários que criaram a propaganda o fizeram intencionalmente, pois objetivaram anunciar uma marca específica, uma vez que há várias marcas de bicicleta no mercado, mas o interesse se concentra em vender a marca Caloi, não qualquer marca.

Há um velho slogan que diz que “a propaganda é a alma do negócio”. Assim ocorre com o capitalismo e o interesse mercadológico, o produto adquire alma e penetra no imaginário das pessoas. Desta forma,

“procura-se conferir personalidade ao produto para que o consumidor adquira personalidade através do produto. Procura-se transformar o produto em um símbolo que permita identificar-se com um grupo social assumido como referência, ou sair de um grupo social para tomar como referência um grupo social de nível superior.” ( Ferrés, 1988, p. 206 ).

É a ideologia burguesa implícita na publicidade procurando elevar a cada dia a auto-estima das pessoas, fazendo com que elas associem o sucesso ao produto anunciado para que assim ele seja vendido. “Consomem-se símbolos mais do que produtos. Ou consomem-se produtos porque precisa-se de valores que eles simbolizam. E este simbolismo é, além de artificial, inconsciente e, muitas vezes, irracional.” ( idem )

As relações entre imagem e poder estão muito acentuadas na atualidade, bem mais que outrora. Hoje, através da televisão se projeta mundos, pessoas comuns, políticos; cria-se estrelas da noite para o dia. Como resultado dessa promoção tem-se a fama, a riqueza e com eles, o poder.

O discurso da TV é unidirecional e impositivo à medida que priva o telespectador o direito de opinar e de estabelecer uma comunicação efetiva; tal discurso não apenas reflete uma ideologia fascista, burguesa e neoliberal. mas legitima-a através das “informações” por ela veiculada.

O que nos inquieta é a repercussão desse predomínio da TV na vida do adolescente, tendo em vista que, pela sua imaturidade psicológica, acaba se deixando levar pelos abusos da mesma. Além disso, e o que é pior, é a imposição de valores a que a TV submete as pessoas; é a imposição dos modismos, é a perversão sexual, são os estereótipos em relação às mulheres ( as que seduzem, as submissas, etc. ). Em suma, são os conceitos que os adolescentes acabam fazendo de si mesmos e dos outros, influenciados pela cultura desse meio de comunicação.

Poderíamos citar apenas como exemplo o programa Malhação, o qual é exibido pela Rede Globo de segunda à sexta-feira, no final da tarde e tem uma temática voltada para adolescentes. Esse programa, mostra adolescentes bonitos, cheios de vida e de muita permissividade. Os valores veiculados por aqueles personagens conseguem alcançar muitos adolescentes, devido ao processo de identificação entre eles ( a fase que estão atravessando, faixa etária, namoros, relacionamento com os pais, paixões, sexualidade, enfim, toda a problemática de um adolescente ). Porém, tal programa exibe cenas de sexo ( as transas dos adolescentes ) que já se tornaram comuns no horário da tarde. São personagens que, no excesso de “modernidade”, aceitam que o seu namorado seja “socializado” com as amigas, contanto que ele saiba dividir o tempo para elas. Este é só um exemplo de como os padrões são lançados aos jovens sem nenhum critério, sem nenhum cuidado e o que é pior, eles acabam incorporando tais padrões sem perceber e achando tudo natural porque “na televisão todo mundo faz”. Ademais, a TV é um referencial para o público infanto-juvenil.

Ocorreu uma experiência com uma aluna nossa que nos revelou que estava traindo o seu namorado com outro rapazinho também da idade dela. Ela já havia incorporado os conceitos feministas da igualdade de direitos, só que, de forma deturpada, pois, afirmava ela, que, aos homens é dado o direito ( não sabemos qual a lei que instituiu isto ) de ter várias mulheres e que, portanto, ela queria também usufruir dos mesmos direitos, ou seja, o “direito” específico de ficar ao mesmo tempo com dois namorados. Acreditamos que, possivelmente, isso seja reflexo da televisão, das novelas que exibem cenas de sexo, de infidelidade, de violência, de degradação da família e falta de respeito, à medida em que estimula os telespectadores com as imagens de forma muito natural, como lhe é peculiar. Muito raramente uma adolescente fica grávida na televisão e se o fica, não enfrenta as dificuldades da vida normal; raramente adquire DST ou mesmo AIDS. Quando a televisão trata o assunto ( quando isso acontece ) é de forma muito fantasiosa.

Como exemplo claro da mascaração da realidade veiculada pela TV, podemos citar a personagem Capitú da novela “Laços de Família”, vivida por Giovanna Antoneli, a qual representava o papel de boa moça, bem aceita pelos amigos os quais encaravam suas atividades como sendo algo legal, como outras atividades quaisquer. O problema é que a televisão omite o lado ruim da realidade, as humilhações, os dissabores, as dificuldades. Ela fragmenta e descontextualiza a própria realidade. Convém salientar que não estamos querendo incitar ao preconceito contra as prostitutas, ( as quais têm a sua profissão reconhecida ) mas estamos querendo chamar a atenção em relação à forma como a televisão trata os problemas, como ela camufla a realidade, dando-lhe uma roupagem que lhe é conveniente, esquecendo-se das dimensões que pode atingir tal procedimento.

Faz-se necessário enfatizar — e é justamente o que estamos querendo neste capítulo, por isso, julgamos importante refletir sobre o poder persuasivo da TV, inicialmente — que os modelos criados pela televisão podem incitar os adolescentes a copiá-los, a incorporá-los, devido ao processo de associação ou transferência. Esses exemplos

“ se completam quando tudo o que a estrela e o personagem representam é transferido para a própria vida do espectador. É que é um novo processo de transferência, o que vai da associação da beleza física à beleza moral, de maneira que se acaba assumindo o que a estrela representa ética e ideologicamente a partir do que representa emocionalmente.” ( Ferrés, 1998, p. 125 ).

A televisão não perder de vista a sua função de propagar a cultura e, como meio de comunicação que é, não pode contribuir para a quebra da identidade cultural, dos elementos culturais. Ela não pode transformar os fatos sociais em produtos culturais.

Afinal, que cultura é esta? A televisão é ou não é um veículo de propagação de cultura ?

É preciso, portanto, repensar essa questão para que a televisão não seja um canal de deformação do comportamento juvenil, ao invés de servir-lhe de paradigma.

fonte:
http://www.artigos.com/artigos/humanas/educacao/a-interferencia-da-televisao-na-aprendizagem-de-alunos-2472/artigo/

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